segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Estrada de Ferro Rio d’Ouro: Ramal da Penha sendo apagado pelas obras do corredor BRT TransCarioca.

  
“Um país que não cuida do seu passado jamais será um país de futuro, ou do futuro.”

   Não se trata exatamente de uma expedição para fazer registro de belas paisagens ou para relaxar a mente. Eu e mais dois companheiros percorremos esse antigo ramal, nos dia 30/05/2013, para denunciar o absurdo que estava sendo feito com o pouco material que sobrou desse ramal, que se iniciava onde temos hoje a estação de Metrô de Vicente Carvalho, no bairro homônimo, e tinha seu ponto final onde hoje existe uma estação de tratamento de esgotos, no bairro da Penha.
Muitas informações nos chegaram de que dormentes haviam sido encontrados onde as escavações estavam acontecendo. Eu e mais dois companheiros do Fórum Trilhos do Rio fomos lá para ver de perto a real situação. E não foi nada animador. Nada! Todo o material retirado da escavação (trilhos, dormentes, placas de fixação, pavimentação e etc.…) estavam sendo jogados no LIXO. Dali seguiam para um aterro. Nada foi salvo para exposição. Coube uma denúncia ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) sobre o ocorrido. A resposta, pasmem, só chegou no dia 10/07/2013, mais de 1 mês depois. Transcrevo a seguir a resposta que nos foi dada.:
Prezada Senhora,
Primeiramente, vimos desculpar-nos pela demora na resposta à sua mensagem. Tal fato deveu-se a uma ampla reestruturação da rede de informática do IPHAN a nível nacional , o que impediu o recebimento e o envio de mensagens por parte de nossa Ouvidoria. Somente agora pudemos resgatar as mensagens e passar a responde-las, reativando a Ouvidoria do IPHAN-RJ.
No tocante ao assunto de seu email, informamos que o IPHAN-RJ já possui ciência sobre o assunto e já tem prevista uma vistoria técnica a ser feita no local para apuração dos fatos e, constatadas irregularidades, tomada de medidas cabíveis.
De qualquer forma, agradecemos as informações encaminhadas e o seu interesse na causa da preservação.
Esperando ter sido útil,
Atenciosamente,
OUVIDORIA IPHAN-RJ

   Triste isso. Bom, vamos fazer a nossa parte. Começamos na frente de obras da praça Aquidauana. Muitos dormentes ainda não haviam sido retirados, o que nos levou a fazer, talvez, o último registro de algum vestígio desse ramal da antiga ferrovia.
   Um pouco adiante conseguimos autorização com o encarregado da obra para entrarmos no canteiro onde acontecia a escavação naquele momento para fazermos registros.
DSCF2731Praça Aquidauana. Foto de Eduardo P. Moreira, o Dado DJ.
DSCF2725Escavações na praça Aquidauana. Notar dormentes soterrados. Foto de Eduardo P. Moreira, o Dado DJ.
DSCF2723Close nos dormentes. Foto de Eduardo P. Moreira, o Dado DJ.
   Seguindo adiante ainda conseguimos mais alguns flagrantes de como nossa história é tratada. Conseguimos também registrar dormentes cilíndricos, que eram muito usados na ferrovia.
DSCF2734Dormentes cilíndricos. Foto de Eduardo P. Moreira, o Dado DJ.
   A partir desse ponto, altura da Pizzaria Parmê de Vicente Carvalho, não mais achamos vestígios e nem escavações. Partimos então para completarmos o restante do Ramal até a Penha, numa caminhada de mais ou menos duas horas.
Jornal O Globo Caderno Zona Norte 09-06-2013Nota do jornal O Globo citando nossa caminhada.
   Um adendo: alguns acham que os dormentes são da linha de bonde que também passou pelo local. O bonde passava mais ao lado esquerdo da Avenida Vicente Carvalho no sentido Penha. A linha da RdO passava do lado esquerdo, onde conseguimos fazer o registro.
   Fica aqui a tristeza e o repúdio com o tratamento dispensado por todos os órgãos de todas as esferas do poder quando o assunto é ferrovia. Nem preservar o pouco que resta são capazes de fazer. Mas ainda existem grupos que não vão deixar a história morrer. E nós vamos à luta para que a preservação se faça presente, mesmo que com trabalho de formiguinha.
Até a próxima.